domingo, 28 de fevereiro de 2010

Filmes (re)vistos em fevereiro de 2010


No Meu Lugar (Brasil, 2009). Dir: Eduardo Valente. Cotação: Ótimo. Inédito. (O roteiro engenhoso de Eduardo Valente e Felipe Bragança qualifica esse filme como um dos grandes lançamentos nacionais de 2009).


Ensaio de Orquestra (Prova d' Orchestra, Itália, 1979). Dir: Federico Fellini. Cotação: Obra-prima. Revisão. (Metáfora fílmica sobre a condição humana, Ensaio de Orquestra apresenta Fellini em ótimo momento. Divino).


A Noite de São Lourenço (Notte di San Lorenzo, La, Itália, 1982). Dir: Paolo e Vittorio Taviani. Cotação: Bom. Revisão. (Um grande tema que podia ter tido melhor direcionamento).



A Teta Assustada (Teta Asustada, La, Peru, 2009). Dir: Claudia Llosa. Cotação: Regular. Inédito. (Pecou pelo excesso de metáforas).


Abraços Partidos (Abrazos Rotos, Los, Espanha, 2009). Dir: Pedro Almodóvar. Cotação: Fraco. Inédito. (Outro filme de Almodóvar com final óbvio. Nada mais espero do diretor espanhol. Já deu o que tinha de dar).


Guerra ao Terror (Hurt Locker, The, EUA, 2008). Dir: Kathryn Bigelow. Cotação: Bom. Inédito. (Estética e ideologia a serviço de Hollywood).


Quanto Dura o Amor? (Brasil, 2009). Dir: Roberto Moreira. Cotação: Ótimo. Inédito. (Excelente filme brazuca envolvendo relacionamentos e conflitos humanos. Tudo que Almodóvar fazia com competência nos melhores filmes e hoje esqueceu).


Amor à Tarde (L'amour L'aprés Midi, França, 1972). Dir: Eric Rohmer. Cotação: Obra-prima. Inédito. (Grande momento de Rohmer. Como sempre, capricho nos diálogos e belas atrizes apimentam esse clássico pouco citado do mestre).


Beleza Americana (American Beauty, EUA, 1999). Dir: Sam Mendes. Cotação: Obra-prima. Revisão. (Outra metáfora sobre a natureza humana e, de quebra, o American Way of Life. Sam Mendes é o grande diretor americano do momento. Filme impecável).


Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, EUA, 1975). Dir: Woody Allen. Cotação: Obra-prima. Inédito. (Esse filme encontra Woody Allen e Diane Keaton em seus melhores momentos. Filmaço).


O Fundo do Mar (Deep, The, EUA, 1977). Dir: Peter Yates. Cotação: Bom. Revisão. (A beleza de Jacqueline Bisset no auge da forma paga esse eletrizante thriller comercial).

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A (in)sustentável leveza do Ballet de Londrina

Ballet de Londrina dança em Natal e Mossoró
(Foto de Isabela Figueiredo)
Desafiar a lei da gravidade dançando artisticamente tem sido o ofício do Ballet de Londrina há 17 anos. Em turnê pelo Brasil, a companhia apresenta o espetáculo "Para Acordar os Homens e Adormecer as Crianças", em Natal, nos dias 03 e 04 de março, às 20h30, no Teatro Alberto Maranhão, e em Mossoró, no dia 05 de março, às 21 horas, no Teatro Dix-Huit Rosado. A produção local é de Lula Belmont.

O Ballet de Londrina é uma companhia profissional de dança contemporânea formada por 12 bailarinos. Criada em 1993, já montou e apresentou 22 espetáculos de dança, fez 11 bem sucedidas turnês nacionais, 10 viagens internacionais - com grande aceitação em Cuba, Peru, Argentina e África -, totalizando mais de 500 apresentações para um público aproximado de 150 mil pessoas. A qualidade do trabalho, a intensidade da agenda e os elogios da crítica especializada qualificam o Ballet de Londrina como umas das excelentes companhias profissionais fora do eixo Rio - São Paulo.

Espetáculo "Para Acordar os Homens e Adormecer as Crianças"
Esse projeto do Ballet de Londrina começou e foi concluído como um fruto do acaso. Coreografado por Leonardo Ramos, o espetáculo tenta decifrar a natureza humana e o que faz os viventes ficarem sem rumo, ocos, perdidos, inertes, mas, por outro lado, esperançosos de um tempo que sempre está por vir, mesmo depois da morte, melhor, mais leve e menos vazio. O espetáculo é, antes de tudo, um rito de passagem, onde alguém adormece a criança e lamentavelmente acorda o homem que vem com o "amadurecimento". É como um eco de todos nós, de que fomos ontem, do que pensamos em ser hoje e daquilo que desejamos para o futuro.
Durante 60 minutos, o espetáculo tenta ser como morfina para a dor, lisérgico, uma droga que ajude a passar essa hora em um tempo que só existe na breve precariedade de um espetáculo, no real da ficção, da arte, resultando numa dança no oco, no vão entre algumas coisas do mundo. “Nunca”, “Eternamente” e “Fome”, espetáculos montados respectivamente em 2001, 2002 e 2003, estão presentes e retomados como material de trabalho num formato de criação bem mais maduro e consistente. A música é um presente também do acaso, veio parar nos ouvidos e nas mãos da companhia quase como um milagre do tempo onde muita informação está disponível, mas é difícil obtê-la pela desordem do mundo virtual.

Ficha técnica:

Nome do espetáculo: “Para Acordar os Homens e Adormecer as Crianças”.
Criação e direção: Leonardo Ramos.
Música: The Samuel Jackson Five, Theta Naught, MT, International Karate, All Angels Gone, Sweek, Tunturia, Strangers Die Every Day, upcdowncleftrightcabc+start, Mimas, Glissando, Bosques de Mi Mente.
Fotos: Isabela Figueiredo.
Cenário: Leonardo Ramos.
Figurino: Ana Carolina Ribeiro.
Confecção de figurino: Aparecida Fernandes.
Elenco: Alessandra Menegazzo. Bruna Martins. Carina Corte. Gláucia Leite. José Maria. Nayara Stanganelli. Marciano Boletti. Viviane Terrenta.
Participação especial: Vitor Rodrigues.
Produção: Danieli Pereira.
Realização: Fundação Cultura Artística de Londrina.


Serviço:


Espetáculo "Para Acordar os Homens e Adormecer as Crianças".

Cia. Ballet de Londrina.

Natal: Dias 03 e 04 de março, às 20h30, no Teatro Alberto Maranhão.

Mossoró: Dia 05 de março, às 21 horas, no Teatro Dix-Huit Rosado.

Ingressos:

Antecipadamente nas Livrarias Siciliano Midway Mall (Natal) e West Shopping (Mossoró): R$ 15,00.
Na hora: Inteira - R$ 30,00 / Meia - R$ 15,00.


Contatos:


Paulo Jorge Dumaresq - 99535846.

Lula Belmont – 3211.8589/94094440.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Cinema culto


A tarde abençoava as falésias
tu inerte contemplavas o mar
eu oculto reprimia o desejo
voavam gaivotas
surgiam sombras
no espelho do teu olhar

Descortinava-se uma deusa
eu sublimava o devaneio
tu desafiavas a solidão
a tarde revelava tua face
em contraponto à minha máscara
(híbrido de argila e carne)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Profecia


Eu poeto
enquanto profetizo
o instante
em que me engravidarás
os sentidos.


De outro modo,
como eu,
teu bardo,
sentiria a imensidão
das tuas entranhas?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Na escola do carnaval quem dá aula é o sambista


Ele representa a alma da escola de samba. Na avenida, multiplica-se para despertar o público para o espetáculo de cores, sons e sensações. É o sambista a razão de ser da agremiação carnavalesca que sacode a avenida provocando um tsunami sonoro. No mar de alegorias, o anonimato do sambista fica mais evidente. Está junto e misturado a seus pares de carnaval. Perde até a individualidade para a bateria soar como um só instrumento uníssono.


Mestre Lucarino rege do céu a orquestra percussiva. Os tambores abafam gritos de mágoa. Suores misturam-se às águas celestiais. Cabrochas desabrocham em volúpia despertando desejos. A escola desliza no palco no bailado da passista. O samba ferve na garganta e nos pés. A harmonia é quesito obrigatório no asfalto, mesmo que o barraco esteja em total desarmonia. Na apuração, alguém vai chorar de dor ou de alegria. No fim, restarão cinzas para serem jogadas no Potengi.


O relógio marca o tempo e palavras de ordem dão celeridade ao andamento rítmico da escola. A fantasia mascara o duro cotidiano da comunidade imersa em dívidas e dúvidas para além do carnaval. Mas a alegria precisa ser programada para o desfile como um preciso cronômetro. Afinal, foram meses de labuta nos barracões apartados do zinco. E agora é chegada a hora da gente bronzeada mostrar seu valor para o moço e o velho, o pobre e o rico, o nativo e o gringo.


Na dispersão, os sambistas se unem para celebrar a grande ilusão. Realidade só no dia seguinte, quando as dívidas começarão a ser pagas e as dúvidas dirimidas. Restarão as dádivas do carnaval, esta transgressão romano-tupiniquim que embriaga a gente brasileira nascida para sonhar, sambar, amar e viver de esperança... e de folia momesca. Será que o entrudo acaba mesmo na quarta-feira de cinzas? Com a palavra, o sambista. Pensando bem, o espetáculo não pode parar.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O eco da oca ribomba na avenida


O batuque é cadenciado e monótono. Nem por isso menos encantador. Ao bater dos tambores e ao chacoalhar dos maracás na avenida Duque de Caxias, na Ribeira Velha de Guerrra, todos identificam a tribo de índios do carnaval natalense como mais uma performance no asfalto do desejo. Seminus, os nossos bravos indígenas do Século XXI remetem aos primórdios da civilização no Rio Grande do Norte, onde nasceram, cresceram e morreram Potiguaras, Tapuias e Tupinambás.


O rito do caçador flechado é um doce acerto de contas com o colonizador e uma homenagem aos antepassados que habitaram nosso Estado em priscas eras. O sangue do caçador é o sangue simbólico das tribos massacradas pelo homem branco (in)civilizado e predador. Mesmo criatianizados pela Santa Madre Igreja Católica Apóstolica Romana, os nossos fantasiados silvícolas do reinado de Momo mantêm a tradição quase secular e a afirmação de estarem vivos e ativos na multiplicação cultural do carnaval natalense.


Hors concours é um nome pomposo demais para a tribo Potiguares chefiada por Raimundo Brasil, símbolo maior do nosso carnaval de cocar e pajé da tribo. Na sua elegante simplicidade, o patrimônio imaterial da cultura norte-rio-grandense exorciza a tristeza e comanda a alegria de desfilar mais um ano junto a seus pares de Rocas. Homenageado da Prefeitura de Natal em 2008, o pajé não adormece nos louros do preito. Trabalha "mais do que promete a força humana" para prorcionar todo santo/pagão ano um carnaval digno da tradição das tribos de índios.


O observador mais atento ainda divisa no corredor da fantasia e da imaginação animais silvestres cenográficos, índias iracêmicas, com suas vergonhas cobertas, tocando flautas, maracás e tambores ou mesmo portando arco e flecha para dançar a dança - perdão pelo pleonasmo - ritualística no asfalto. Jatos de gelo seco realçam o efeito de luz dos canhões instalados no final do percurso. Também afogam o olhar do visitante a dança do fogo, a da festa e a dança de beber cauim. Pajé, feiticeiro, caçador, enredo, originalidade, figurinos, alegorias e tempo são quesitos observados pelos 12 jurados do desfile. No mutirão da solidariedade tribal, amigos, familiares e agregados das nove tribos de índios se irmanam no trabalho mirando o tão cobiçado troféu de campeã. Menos Raimundo Brasil e os Potiguares. Eles são Hors concours. Lembram?


Em tempo: Hors concours, cuja pronuncia é /ór concur/, é uma expressão de origem francesa que tem como significado “fora da competição” ou “fora do concurso”.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A irreverência travestida de Kenga

Kenga anônima desfila no corredor da rua Vigário Bartolomeu
Há 27 carnavais elas atraem e distraem o folião natalense no Centro Histórico, proporcionando um show de deboche, irreverência e transgressão no domingo de carnaval. São assumidamente homossexuais, drag queens e travestis, que investem pesado no visual para participar do desfile que elege anualmente a Kenga do Ano. Mas há aquelas que preferem apenas circular pelas ruas Vigário Bartolomeu e Ulisses Caldas, onde fica montado o palco do concurso, sem se submeterem ao crivo dos jurados. Apenas desfilam no corredor da Vigário Bartolomeu por puro prazer exibicionista. Algumas já tomaram tristeza, hoje tomam alegria.


Logo nas primeiras horas da tarde do domingo de carnaval, ainda sob o sol implacável do verão natalense, as vedetes da festa começam a chegar “montadas” em saltos altos, fantasias, adereços, cílios postiços e seios fellinianos, arrancando olhares curiosos e admirados, risos e recebendo aplausos, apupos e “cantadas” do sexo masculino. A maioria ignora. Porque na psicologia de uma kenga bem resolvida, o momento único e raro do domingo de carnaval no Centro Histórico é para ser o trampolim da alegria, do bom humor e do glamour.


Como que transportadas do filme franco-italiano “A Gaiola das Loucas”, do diretor Edouard Molinaro, para a vida real, as Kengas confirmam todos os predicados do carnaval traduzidos em alegria, brilho, cor, irreverência e volúpia. A kenga é um mistério psicológico em sua transparente transgressão. Melhor: não há mistério algum. O ser humano é que perdeu a faculdade de aproximação às forças espontâneas. Algo que a psicanálise e a sociologia explicam nos livros. Termômetro da folia momesca no domingo de carnaval na Cidade dos Reis Magos, o desfile das Kengas mobiliza todas as classes sociais e faixas etárias. São milhares de natalenses que lotam as ruas Vigário Bartolomeu e Ulisses Caldas para admirar e cultuar as atrações da festa.


A intenção desde o início do evento é fortalecer e fixar a imagem de Natal como polo turístico, unindo a descontração daqueles que brincam o carnaval de forma espontânea e sem preconceitos, afora a expansão dos canais de participação ativa do folião natalense no intuito de contribuir culturalmente para a capital potiguar. A ideia do idealizador do desfile, o carnavalesco, restauranteur e produtor cultural, Lula Belmont, é de agregar as pessoas que gostam de uma folia mais irreverente no Centro Histórico na tentativa de revitalizar o carnaval de rua da Cidade Alta.


O evento que começou de forma despretensiosa em frente à antiga boate Broadway, na rua Felipe Camarão, em 1983, ganhou adeptos com o passar dos anos. Em 1984, o desfile passou para a confluência das ruas Vigário Bartolomeu e Ulisses Caldas, onde permanece até os dias de hoje. A estrutura de palco só veio tempos depois. Lula Belmont lembra que em tempos idos o desfile foi realizado até em cima de caminhões. Hoje a Prefeitura de Natal, por meio da Fundação Cultural Capitania das Artes, garante palco, som, luz e segurança para o evento ocorrer em toda sua complexa plenitude libertina.


O nome "kenga" surgiu de uma consulta aos frequentadores da Broadway. Ganhou a sugestão do produtor cultural Marcos Sá, logo acatada por Lula Belmont. Neste ano, o carnavalesco calcula número de foliões superior a 20 mil pessoas. A concentração teve início às 15 horas, animada pelo som da Banda das Kengas comandada pelo experiente maestro Neemias Lopes. O desfile propriamente dito começou às 18 horas.


Descoladas e bem-humoradas, as apresentadoras Jarita Night and Day e Divina Shakira fazem um show à parte. Tecem comentários airosos e desairosos sobre as concorrentes do concurso. Nada mais nada menos que burlesco. É de bom alvitre informar que a comissão julgadora não elege necessariamente a kenga mais bonita ou produzida, contudo a mais criativa ou, como se diz, no linguajar chulo, a mais “fuleira”. A Kenga 2010 receberá um kit de cosméticos e um prêmio no valor de R$ 200,00.


Há oito anos registrando o desfile, o fotógrafo e hedonista, Antonius Manso, considera as Kengas um marco sócio-cultural na folia de momo natalense. No pensamento de Delirius Criativus, como se auto-proclama o fotógrafo, o importante na vida é brilhar e ser feliz, seja na passarela da vida ou na da Vigário Bartolomeu. “A fantasia é a essência do carnaval. E o carnaval é a pura e, ao mesmo tempo, oculta fantasia do ser humano”, filosofa.


Desde os primórdios do desfile que o buffeteiro Fernando Mendes prestigia o evento, ele próprio caracterizado de kenga. Mas há cinco anos não se traveste. Alega que a idade pesou na decisão. A ampulheta do tempo indicou a hora dele parar. Deixar de prestigiar o desfile não deixa. Mesmo tendo pendurado a fantasia, comparece todo ano com a família e amigos para lembrar os bons tempos. “As Kengas movimentam e mobilizam o carnaval no Centro Histórico, atraindo o natalense e o turista”, resume.
Paulo Jorge Dumaresq

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Uma noite com os Manicacas no Frevo

O jornalista Sérgio Vilar era só alegria puxado pela namorada
O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa explica o verbete manicaca, em seu sentido restrito, como um “indivíduo apalermado, atoleimado, palerma”. Ou mesmo “tratante, covarde, fracalhão, mucufa e mutanje”. Há que se respeitar o Dicionário Aurélio, mas no Rio Grande do Norte o vocábulo manicaca, em seu sentido lato, designa um indivíduo, digamos, dominado ou governado pela mulher. Em verdade, todo homem comprometido tem sua porção manicaca.

O termo de conotação jocosa ganhou mais notoriedade no burgo cascudiano com a criação do bloco carnavalesco Manicacas no Frevo há exatos cinco anos. A idéia surgiu no Bar da Nazaré, tradicional reduto boêmio nas adjacências do Beco da Lama, localizado no Centro Histórico. Os produtores culturais Dorian Lima e Julio César Pimenta, mais o artista plástico Fábio Eduardo, responsável pela arte da camisa do bloco neste ano momesco de 2010, farreavam havia dois dias. Até aí tudo bem se não fosse pelo fato do telefone celular de Fábio Eduardo tocar insistentemente. Era a sua primeira-dama exigindo a localização geográfico-etílica do marido. Dorian Lima e Julio César notaram a pressão e a “rédea curta” e apelidaram o amigo de manicaca. Naquela mesma farra surgiu a ideia do bloco.

Hoje os Manicacas no Frevo movimentam o carnaval no circuito Centro Histórico arrastando artistas, jornalistas, intelectuais e pseudo-intelectuais, afora simpatizantes da área cultural. Há três anos inserido na programação oficial do carnaval promovido pela Prefeitura de Natal, nesse período o bloco só fez conquistar novos adeptos. Ontem (12), ao cair da tarde, cerca de 300 manicacas seguiram orgulhosos arrepiando os paralelepípedos revestidos de asfalto da velha Cidade Alta. Sós, mas com a autorização da parceira, ou acompanhados pela respectiva, os manicacas se aglomeraram no Bardallos Comida & Arte para experimentar o doce sabor anárquico e transgressor do carnaval. Até o Rei Momo Charles Campos e a Rainha Édila Dias do carnaval 2010 de Natal prestigiaram o bloco com suas presenças luxuosas.

Uma banda manicaca composta por 15 músicos puxou o cordão imaginário e lá se foi a multidão seguindo itinerário histórico-cultural. Ao passarem em frente à casa do arcebispo metropolitano de Natal, Dom Matias Patrício de Macêdo, alguns manicacas mais atrevidos acenaram para o religioso, que respondeu de maneira tímida, como cabe a um homem da sua posição. Até o galo da Igreja Santo Antônio deve ter despertado para se juntar ao coro dos contentes. No Bar da Nazaré, onde tudo começou, uma parada estratégica para dar passagem a outro bloco que descia a rua Vigário Bartolomeu em direção ao palco montado em frente à Procuradoria Geral do Município. O palco do Manicacas recebeu a Orquestra Boca Seca, a banda Arrelia e o cantor Maguinho da Silva.

“Hoje dá para se brincar o carnaval em Natal. Com a revitalização da folia de momo na capital e o caráter multicultural da festa, a tendência é que a população opte por permanecer na cidade“, disse o diretor do bloco Julio César Pimenta. Na sua visão periférica, a Prefeitura acertou ao não contratar artistas renomados de outras plagas para animar o carnaval: “a medida foi positiva, porque permitiu a contratação de músicos da cidade”.

Para se ter noção do acerto na aposta no artista local, mais de mil músicos estão envolvidos nos festejos carnavalescos natalenses distribuídos nos seis circuitos. Dados oficiais da Fundação Cultural Capitania das Artes dão conta de que este ano o número de blocos dobrou, passando de 75 no ano passado para 150 em 2010. Não é sem razão que o tema da folia de momo este ano é “Carnaval em Natal, Você tá em casa”.

Manicaca do Ano

Imbuída do mais nobre propósito carnavalesco, a diretoria do Manicacas no Frevo elegeu o jornalista do Diário de Natal, Sérgio Vilar, como o Manicaca do Ano. Júlio César Pimenta explica: “Sérgio só frequenta o Beco da Lama acompanhado da namorada. Aí não teve jeito. Foi eleito o Manicaca do Ano”.


Devidamente condecorado com coroa, rolo de macarrão, pulseira e corrente, puxada pela musa, Sérgio Vilar declarou que recebeu a homenagem semi-orgulhoso, assumindo a partir daquele momento o epíteto de manicaca. “Eu sou o mais novo jornalista premiado do Diário de Natal”, brincou o repórter. Em contrapartida, outro frequentador inveterado do Beco da Lama, o artista plástico Marcelus Bob, eleito o Manicaca de Honra do bloco, não compareceu ao evento nem mandou representante.


Paulo Jorge Dumaresq

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Disperso (7)


A feérica luz do poste moderno
encantava insetos erotizados
todos rodopiando no ar sereno
numa dança muda e acrobática.

De repente a noite se fez dia
surgiu a aurora afugentando asas
e anunciando vida humana na terra.

Para os insetos
o dia confirma a longa
espera pela cálida noite,
até o movimento traduzir-se em rito
e bater asas de volta à mágica lâmpada.