sábado, 24 de dezembro de 2011

Uma cidade banhada de sol celebra 412 anos

Para o baiano Caetano Veloso, Natal é o “diamante do Nordeste”. Na expressão de Câmara Cascudo, a “noiva do sol”. À parte os epítetos lisonjeiros, a quatrocentona cidade dos Reis Magos veste-se de luz, magia e beleza para celebrar 412 anos vividos intensamente. Praias, dunas, sol, pau-brasil e riquezas naturais outras cativaram franceses, portugueses e holandeses que, pela abastança, encanto e estratégia do território natalense, travaram batalhas renhidas pela posse do sítio, mais do que prometia a bravura humana.

Mangabas, cajus “virgulados de castanhas” e jabuticabas adoçaram o paladar dos colonizadores. Europeus sentiram o sabor atlântico de ciobas, tainhas e xaréus agasalhados de farinha. Ouviram, ainda, o canto do azulão e da craúna no Parque das Dunas, nosso “pulmão” natural. Aqui, portugueses ergueram uma fortaleza, fundaram uma cidade e edificaram igrejas para propagar sua fé cristã.

Do solo natalense, brotaram artistas e homens de letras que dignificaram a nossa cultura. Eruditos do lastro de Luís da Câmara Cascudo e Américo de Oliveira Costa fizeram a estrela de Natal brilhar mais intensamente na constelação da literatura.

"Rio Grande do Norte,/ capital Natal;/ em cada esquina um poeta,/ em cada rua um jornal", dizia a quadrinha do início do século 20. Não é por acaso que a cidade presépio se destaca no panorama poético-literário do país ao gerar talentos da estatura de Jorge Fernandes e Luís Carlos Guimarães, e adotar como suas as poetisas Zila Mamede e Myriam Coeli. Nos dias de hoje, ganham vulto os versos de Marize Castro, Iracema Macedo e Carmen Vasconcelos.

Natal apresenta com orgulho suas manifestações folclórico-culturais traduzidas na tradição dos Congos de Calçola, da Vila de Ponta Negra; do Boi de Reis, de Manoel Marinheiro; e da Sociedade Araruna de Danças Antigas e Semi-Desaparecidas, fundada pelo saudoso Cornélio Campina. Estes são apenas três arquétipos do patrimônio imaterial da nação natalense.

Aliás, a cultura popular foi estudada, a fundo, pelo mestre Câmara Cascudo - o renovador do folclore brasileiro - e seus discípulos Veríssimo de Melo e Deífilo Gurgel, que fizeram da vida profissão de fé na defesa e na divulgação das nossas tradições populares. Nas artes plásticas, merecem louros e loas os artistas Newton Navarro - nosso representante da Escola de Paris -, Leopoldo Nelson e Dorian Gray, continuador do legado de Navarro. Louve-se, também, o pioneiro da arte cinética no Brasil, o misto de artista e inventor, Abraham Palatnik.

A alegria contagiante da nossa gente é embalada pelo samba de Roberta Sá, pela flauta mágica de Carlos Zens, pelo cantor Leno e pelo eclético Isaque Galvão. O romantismo contagiante do cantor Gilliard e da "rouxinol" Glorinha Oliveira também dão o tom maior da música potiguar. Todos esses talentos são "abençoados" por Othoniel Menezes e Eduardo Moreira, autores de "Praieira", hino informal da cidade.

Na arte teatral, o grupo Clowns de Shakespeare é referência no país. Não se pode esquecer também o trabalho consistente do Alegria, Alegria e do Grupo Estandarte de Teatro.

O balé da bola também se fez poesia nos pés de Marinho Chagas e nas mãos certeiras de Virna Dantas. Os pés ligeiros de Magnólia Figueiredo transformaram a nossa velocista em mina de ouro, prata e bronze. Por toda essa riqueza esportiva, artística e diversidade cultural, Natal enleva o espírito humano na grande viagem do homem em busca do conhecimento de si mesmo e de seu semelhante.

História

No longínquo 1530, o soberano de Portugal, Dom João III, dividiu o Brasil em lotes - as Capitanias Hereditárias – e as terras que hoje correspondem ao Rio Grande do Norte couberam a João de Barros e Aires da Cunha. A primeira expedição portuguesa ocorreu cinco anos depois com o objetivo de colonizar a região. Antes disso, os franceses já aportavam por aqui para contrabandear o pau-brasil. E esse foi o principal motivo do fracasso da primeira tentativa de colonização. Os índios potiguares ajudavam os franceses a combater os colonizadores, impedindo a fixação dos portugueses em terras potiguares.

Passados 62 anos, em 25 de dezembro de 1597, uma nova expedição lusa, desta vez comandada por Mascarenhas Homem e Jerônimo de Albuquerque, chegou para expulsar os franceses e reconquistar a capitania. Em fins do século 16, o rei de Portugal, Dom Felipe I, ordenou ao Governador Geral do Brasil, Dom Francisco de Souza, por meio das cartas régias de 09/11/1596 e de 15/03/1597, que fosse construída uma fortaleza e que se fundasse uma cidade para afastar os estrangeiros.

Banhados de rio e mar, os portugueses iniciaram a construção da cidadela de barro, no dia 6 de janeiro de 1598. Sua planta foi elaborada pelas mãos abençoadas do Padre Gaspar de Samperes, sendo concluída em 24 de junho de 1598 e denominada Fortaleza dos Reis Magos, por se tratar do dia de Santos Reis.

Graças à riqueza e fertilidade, o nosso território logo despertou a cobiça de outros povos d’além-mar. Em dezembro de 1631, teve início a campanha batava para conquistar a Capitania do Rio Grande. Os holandeses contavam com a ajuda dos índios Janduís, inimigos históricos dos lusos. Uma tropa, sob o comando de Albert Smient e Joost Closter, desembarcou em Genipabu.

Somente em dezembro de 1633 é que veio a expedição definitiva. A esquadra trouxe 808 soldados que desembarcaram em Ponta Negra. O combate começou no dia 8 e se estendeu até o dia 12, quando a guarnição do forte, à revelia do capitão-mor Pero Mendes de Gouveia, ferido no combate, propôs a rendição.

Vencedores, os holandeses rebatizaram o forte de Castelo Keulen, homenagem ao diretor da Companhia das Índias Ocidentais, e Natal, de Nova Amsterdã. Com o domínio holandês, em 1633, a rotina da cidade que começava a evoluir foi totalmente mudada. Os batavos permaneceram 21 anos em solo potiguar. Em 1654, os lusos expulsaram os batavos e reconquistaram a Capitania.

Século 20

Classificada como "um dos quatro pontos mais estratégicos do mundo", pelo Departamento de Guerra dos EUA, junto com Suez, Gibraltar e Bósforo, Natal nos anos 1940 serviu de base militar para os soldados norte-americanos, que vinham abastecer as aeronaves para seguir viagem para Dacar, no Senegal, e de lá combater as tropas alemãs na África e na Europa. No período da 2a Grande Guerra, a cidade ganhou notoriedade no mundo inteiro.

Nos anos pós-guerra, Natal continuaria a se desenvolver e a sua população crescer, mas só algumas décadas mais tarde é que esse quadro mudaria definitivamente, com a construção da Via Costeira nos anos 1980. São 10 km de praias com uma excelente rede de hotéis entre as dunas e o mar.

Atualmente, a quatrocentona capital do RN se encontra em processo de forte crescimento urbano e conurbação com cidades vizinhas, registrando, segundo o Censo 2010 do IBGE, uma população de 803.311 habitantes, que, se levada em conta a parcela flutuante, sobe para 1.350.840 habitantes.

Sozinha, a capital potiguar responde por 40% da receita do estado. A base da sua economia são atividades relacionadas ao comércio, indústria, construção civil e, principalmente, o turismo. Hoje, não só franceses, portugueses e holandeses visitam Natal. Nos períodos de alta estação, a cidade se transforma na babel brasileira, recebendo turistas do mundo inteiro.

2 comentários:

  1. Oh, Paulo Jorge, meu querido amigo!
    Que maravilha de postagem , esta que nos oferece!
    Lição formidável, que li e reli, e pretendo ler novamente, pois encantou-me tudo que Natal representa! Quanta riqueza cultural!
    Você é um felizardo, que a vida conduziu até aí, e ofereceu a possibilidade de ficar desfrutando de toda essa beleza.
    Nunca fui a Natal, mas com a descrição feita por você, com as minúcias apresentadas, com os detalhes da história, parece-me bem familiar a cidade encantadora!
    Muito grata, querido, por este magnífico presente de Ano Novo.
    Sentindo ser impossível retribuir à altura, deixo-lhe, pelo menos, meu abraço bem forte e beijinhos preenchidos de amizade, de carinho, com os quais você poderá contar sempre!
    Sua amiga
    Zélia

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  2. Muito obrigado, Zélia, pelo carinho demonstrado. Tenho-lhe também em alta conta como poetisa e ser humano. Que 2012 seja frutífero no campo da cultura e que você continue trilhando a vereda da poesia com alegria e competência. Excelente Ano Novo e felicidades mil. Bjs, bjs.

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